Uma goleadora de respeito em busca de protagonismo
Cristina Martín-Prieto chegou ao Benfica no verão de 2024 como uma das contratações mais mediáticas do futebol feminino português. Com experiência internacional pela Seleção de Espanha e um histórico de golos impressionante na Liga F, a avançado apresentou-se no Seixal como garantia de finalização, raça e mentalidade vencedora. A época 2024/25 reforçou essa ideia: 30 golos, cinco assistências e 37 jogos que ajudaram as águias a conquistar títulos e a consolidarem-se como potência europeia emergente.
No entanto, apesar da produção ofensiva, a história desta nova temporada tem sido diferente. O nosso exclusivo Glorioso 1904 revela que Cristina Martín-Prieto não está totalmente satisfeita com o papel que tem desempenhado até agora. Não se trata de uma crise interna, mas sim da ambição de uma jogadora habituada a decidir jogos grandes — e que, no Benfica, sente que tem ficado muitas vezes de fora desses momentos.
Menos minutos, mais dúvidas: o início irregular de 2024/25
Até ao momento, o Benfica disputou oito jogos oficiais nesta temporada. Cristina Martín-Prieto participou em todos, mas apenas quatro como titular. Nos restantes, entrou a partir do banco, muitas vezes entre os 60 e os 70 minutos, quando o resultado já estava encaminhado ou quando era necessário refrescar o ataque. O problema não é apenas o tempo de jogo, mas sim o timing e o contexto dessas entradas.
A avançado começou no banco em partidas decisivas, nomeadamente:
• A Supertaça frente ao Torreense;
• Os dois jogos da Liga dos Campeões, contra Arsenal e Juventus.
Para uma jogadora que brilhou exatamente nestes palcos na época anterior, esta mudança desperta frustração. E os números espelham isso: Cristina Martín-Prieto tem apenas dois golos, ambos marcados no mesmo jogo — frente ao Damaiense, encontro em que foi titular, marcou dois golos e acabou substituída aos 60 minutos.
Concorrência interna no ataque encarnado
Uma das explicações para esta diminuição de minutos está na riqueza tática do plantel do Benfica. Filipa Patão tem apostado numa rotação entre:
• Jéssica Silva, mais móvel e explosiva;
• Nycole Raysla, que oferece versatilidade e pressão alta;
• Kika Nazareth, que mesmo não sendo ponta-de-lança, ocupa espaços entre linhas e desequilibra com inteligência;
• E claro, Martín-Prieto, referência física na área e especialista em finalização.
O Benfica ganhou profundidade, mas também criou um dilema: como gerir uma jogadora que foi decisiva, mas que agora disputa espaço com atletas mais jovens, dinâmicas e taticamente flexíveis?
Análise tática: sistema a beneficiar ou limitar a avançado?
Um dos pontos críticos está na forma como o Benfica se adapta aos adversários. Perante equipas como Arsenal e Juventus, Filipa Patão optou por um sistema com maior mobilidade ofensiva — privilegiando atacantes que recuam, fazem pressão e participam na construção. Cristina, por sua vez, é uma avançado mais clássica: vive dentro da área, posiciona-se entre centrais e é letal no primeiro toque.
Isto não significa que não tenha qualidade para estes jogos. Pelo contrário, é precisamente neste tipo de confronto que a sua frieza pode decidir. Porém, a estratégia adotada aponta para um Benfica mais rápido na transição e menos dependente de bolas paradas e cruzamentos — características onde a espanhola domina.
Opinião: uma gestão de egos ou um erro estratégico?
A insatisfação da jogadora é legítima. Uma atleta com 30 golos numa época não pode ser tratada como opção secundária nos jogos mais importantes. Do ponto de vista emocional, Martín-Prieto representa liderança, experiência e confiança — atributos que muitas vezes fazem a diferença nas noites europeias.
No entanto, também é verdade que o Benfica não pode depender apenas da sua finalização. O futebol está mais rápido, mais intenso, e o modelo de jogo encarnado exige sacrifício defensivo constante. O desafio de Filipa Patão é encontrar o equilíbrio entre a solidez tática e o respeito pela hierarquia das jogadoras mais influentes.
Impacto no balneário e gestão futura
Até ao momento, não há sinais de conflito interno. Cristina Martín-Prieto mantém profissionalismo exemplar, continua a treinar no máximo e aceita as decisões da equipa técnica. Mas nos bastidores, o desejo por mais minutos — sobretudo nos jogos grandes — é real. O clima permanece tranquilo, mas a longo prazo poderá tornar-se um problema se a situação persistir.
O Benfica, que luta pela hegemonia interna e quer afirmar-se definitivamente na Champions feminina, precisa de todas as suas armas. E Cristina Martín-Prieto é uma das mais poderosas.
O que esperar nos próximos meses?
Há três cenários possíveis:
1. Reconquista do lugar como titular absoluta — se continuar a marcar e a influenciar jogos quando é chamada, será difícil mantê-la no banco.
2. Rotação estratégica mantida — Filipa Patão pode continuar a gerir minutos conforme o adversário, o que exigirá maturidade da jogadora.
3. Movimento no mercado de transferências — se a falta de protagonismo continuar, a hipótese de saída no verão de 2025 não deve ser descartada.
Conclusão: uma estrela que pede palco
Cristina Martín-Prieto não está a causar polémica, não está a criar conflitos. Está apenas a verbalizar o que qualquer goleadora sente: quer decidir, quer estar dentro de campo quando o jogo mais precisa dela. No futebol moderno, onde resultados e projeção internacional são fundamentais, o Benfica terá de perceber que segurar uma jogadora deste calibre passa não apenas por contratos, mas por minutos, confiança e protagonismo.
Se bem gerida, esta “insatisfação” pode transformar-se em combustível para mais golos, mais conquistas e mais noites europeias memoráveis. O Estádio da Luz já sabe: quando Cristina está em campo e motivada, a baliza adversária treme.

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