Grimaldo abre o jogo sobre o impacto de Enzo Fernández no Benfica
Alejandro Grimaldo, um dos jogadores mais marcantes do Benfica nos últimos anos, voltou a falar sobre a sua passagem pela Luz — e desta vez com um tom de desabafo. Em entrevista à TNT Sports Argentina, o lateral espanhol abordou um dos episódios mais turbulentos da época 2022/23: a saída de Enzo Fernández para o Chelsea.
Com um discurso direto e sem rodeios, Grimaldo afirmou que a transferência do médio argentino “matou a equipa”, afetando diretamente o rendimento do Benfica na Liga dos Campeões, competição em que os encarnados sonhavam alcançar algo histórico.
“O Enzo Fernández saiu em janeiro e isso matou a equipa. Causou-nos enorme dano. Toda a manobra da equipa passava por ele. Era ele que organizava tudo e a saída custou-nos muito, sobretudo na Champions”, disse o antigo camisola 3 do Benfica.
Enzo Fernández: o maestro que mudou o jogo
Quando Enzo Fernández chegou ao Benfica no verão de 2022, vindo do River Plate, poucos imaginavam que o médio argentino teria um impacto tão imediato. Em poucos meses, tornou-se o cérebro do meio-campo encarnado, destacando-se pela inteligência tática, qualidade de passe e presença em todos os momentos do jogo.
Grimaldo reconhece que essa influência foi determinante para o sucesso inicial da temporada:
“Na Liga continuávamos a ser uma grande equipa, mas na Champions, que é um patamar acima, ele era diferenciador”, destacou.
De facto, o Benfica de Roger Schmidt praticava um futebol de alta intensidade e coordenação tática, mas muito dessa fluidez passava pela capacidade de Enzo em transformar jogadas defensivas em ataques perigosos. A sua saída, em janeiro de 2023, desestruturou a dinâmica coletiva, e o próprio Grimaldo não escondeu que o grupo sentiu a perda profundamente.
A saída polêmica de Enzo Fernández
A transferência de Enzo Fernández para o Chelsea foi uma das mais mediáticas e controversas da história recente do Benfica. Depois de semanas de tensão, negociações e especulações, o médio argentino acabou por rumar a Londres por 120 milhões de euros, tornando-se uma das vendas mais caras do futebol mundial.
A novela teve momentos de grande tensão. Enzo chegou a recusar-se a treinar, e a sua relação com a direção encarnada deteriorou-se rapidamente. Apesar de inicialmente afirmar que ficaria até ao final da temporada, o jogador acabou por ceder à proposta milionária inglesa.
“É futebol. Se o Chelsea pagou 120 milhões, o que é que o Benfica podia fazer?”, resumiu Grimaldo, reconhecendo a inevitabilidade da transferência.
Do ponto de vista financeiro, o Benfica fez um negócio brilhante. Mas, desportivamente, a perda de Enzo deixou uma ferida aberta. A equipa, que até então era vista como uma das surpresas da Champions, perdeu intensidade, criatividade e equilíbrio no meio-campo.
Benfica pós-Enzo: talento sem o mesmo brilho
Após a saída do médio argentino, Roger Schmidt tentou várias soluções para preencher o vazio. Chiquinho, Aursnes e Florentino Luís alternaram funções, mas nenhum conseguiu replicar a influência total de Enzo no jogo.
O Benfica ainda terminou a época 2022/23 com o título de campeão nacional, mas ficou a sensação de que poderia ter ido mais longe na Liga dos Campeões. A eliminação diante do Inter de Milão nos quartos de final confirmou o que Grimaldo agora reconhece publicamente: o Benfica perdeu a sua alma criativa.
Essa análise do lateral espanhol revela algo mais profundo — a importância da continuidade de projeto no futebol moderno. Quando uma equipa perde o seu pilar tático no meio da temporada, é quase impossível manter o mesmo nível competitivo, especialmente numa competição exigente como a Champions League.
A era Grimaldo na Luz: legado e saudade
Alejandro Grimaldo deixou o Benfica em 2023 com uma marca impressionante. Foram 303 jogos, 27 golos e 61 assistências, números que o colocam como um dos laterais mais produtivos da história recente do clube.
Avaliado atualmente em 30 milhões de euros, o internacional espanhol conquistou nove títulos pelos encarnados:
• 4 Campeonatos Nacionais
• 3 Supertaças Cândido de Oliveira
• 1 Taça de Portugal
• 1 Taça da Liga
A sua saída foi sentida por adeptos e companheiros de equipa. Grimaldo, que chegou ainda jovem vindo do Barcelona B, cresceu na Luz, tornou-se líder dentro do balneário e um símbolo de regularidade e profissionalismo.
Hoje, ao serviço do Bayer Leverkusen, o espanhol mantém o alto nível que o caracterizou em Portugal, mas não esconde a ligação emocional ao Benfica.
“Foram anos incríveis. Sinto orgulho de tudo o que vivi no Benfica. É um clube especial, que me deu tudo”, afirmou recentemente.
A visão crítica de Grimaldo: maturidade e realismo
O tom de Grimaldo nas suas declarações mostra um jogador maduro e consciente do impacto coletivo das decisões individuais. Ao invés de culpar Enzo Fernández, o lateral reconhece o peso inevitável do mercado e a lógica do futebol moderno.
O Chelsea, disposto a pagar uma soma astronômica, ofereceu ao argentino uma oportunidade difícil de recusar. Para o Benfica, por mais que a saída tivesse sido um golpe desportivo, a venda representou um feito histórico e financeiro.
A reflexão de Grimaldo também lança luz sobre a fragilidade das equipas portuguesas face ao poderio económico das grandes ligas europeias. Mesmo clubes bem estruturados como o Benfica acabam por perder os seus melhores talentos antes de consolidar projetos desportivos duradouros.
Opinião: a ferida que moldou o futuro do Benfica
A perda de Enzo Fernández foi, sem dúvida, uma das maiores dores da era Schmidt, mas também um ponto de viragem. O Benfica aprendeu com a experiência, reforçando o meio-campo com jogadores mais adaptáveis e mantendo a filosofia de jogo que caracteriza o técnico alemão.
O reconhecimento público de Grimaldo reforça a narrativa de que a coesão e a estabilidade são tão importantes quanto o talento individual. O Benfica de hoje tenta equilibrar essas duas dimensões: manter o sucesso financeiro sem comprometer o desempenho desportivo.
No fim das contas, o comentário de Grimaldo não é uma crítica, mas sim uma constatação lúcida de quem viveu o processo por dentro — uma lição sobre como uma única transferência pode mudar o rumo de uma temporada inteira.

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