O Benfica venceu o Tondela por 3-0 e garantiu o apuramento para a Final Four da Allianz Cup, mas o triunfo não deixou José Mourinho totalmente satisfeito. Apesar da vitória confortável no marcador, o técnico encarnado criticou abertamente a postura da equipa na primeira parte e reconheceu que talvez tenha cometido um erro estratégico ao não lançar logo os seus “pesos pesados”.
“Missão cumprida, e eu diria com tranquilidade a mais porque durante muito tempo jogou-se com pouca ambição, pouco ritmo. Estava a sentir que tinha falhado na tentativa de apertar com eles para que o jogo fosse jogado como quero sempre. Falhei. Na primeira parte não gostei”, afirmou Mourinho à Sport TV.
A análise do treinador português deixou claro que, mesmo após uma vitória expressiva, o nível de exigência interna continua altíssimo no Benfica versão Mourinho.
Primeira parte morna e Mourinho autocrítico
O treinador encarnado reconheceu que o seu plano inicial — dar minutos a jogadores menos utilizados — não resultou da forma esperada. A equipa apresentou um futebol lento, previsível e sem a intensidade característica das equipas do “Special One”.
“Durante muito tempo jogou-se com pouca ambição, pouco ritmo. Quando senti que podia encaminhar o jogo para uma zona de perigo, meti os pesos pesados e a sensação que ficou é que, se tivesse começado com aqueles jogadores que estão a ser a minha primeira escolha, o resultado podia ter sido diferente.”
Na segunda parte, com a entrada dos habituais titulares, o Benfica acelerou o jogo e construiu uma vantagem segura. No entanto, Mourinho não escondeu a sua frustração com a falta de ritmo e energia nos primeiros 45 minutos.
Mourinho e o dilema da rotação: “Há jogadores que têm de jogar”
Questionado sobre se se arrepende de não ter colocado os titulares desde o início, Mourinho foi direto, mas justificou a decisão:
“Podia tê-lo feito, mas há jogadores que têm de jogar, de mostrar, de pôr pressão. Tinha no banco jogadores que gostaria de ter feito jogar. Não Pavlidis, Rios… Mas depois não deu. Não quis correr mais riscos.”
Esta frase revela o dilema clássico enfrentado por treinadores em equipas grandes: equilibrar a rotação com a necessidade de resultados. Mourinho, conhecido pela sua aversão a “brincar ao futebol”, deixou claro que prefere vencer sempre — mesmo em jogos teoricamente acessíveis.
“Há uma acumulação de jogos, mas gosto de ganhar, não gosto de brincar ao futebol. Quis passar esta mensagem. Sinto que não fui tão bem sucedido.”
Otamendi atinge marco histórico: 250 jogos pelo Benfica
Apesar das críticas à exibição, Mourinho não deixou de destacar um momento simbólico da noite: o 250º jogo de Nicolás Otamendi com a camisola do Benfica. O central argentino, capitão e um dos pilares do balneário, foi elogiado pela sua entrega até ao último minuto.
“O bom da noite foi a vitória, 53 mil adeptos no estádio, 250 jogos do Otamendi no Benfica, é uma coisa de assinalar. Fez um sprint de 80 metros aos 90’+5” — comentou Mourinho, visivelmente orgulhoso do veterano.
Este marco consolida Otamendi como uma das figuras mais importantes da era recente do clube e um verdadeiro exemplo de profissionalismo e liderança.
Lukebakio estreia-se a marcar — mas Mourinho quer mais
Outro destaque foi a estreia de Lukebakio a marcar com a camisola encarnada. O avançado belga abriu a sua conta pessoal, mas nem por isso escapou às exigências do treinador.
“É importante, mas quero mais. Já brinquei com ele, perguntei-lhe quem decidiu o homem do jogo porque eu não lhe dava.”
A frase, dita em tom de brincadeira, reflete bem o perfil de Mourinho: elogia, mas nunca deixa o jogador acomodar-se. É uma estratégia mental que tem funcionado ao longo da sua carreira — manter os atletas permanentemente motivados e conscientes de que podem (e devem) dar mais.
Mourinho e o peso da emoção: “Emoção seria ganhar em Guimarães”
Nos últimos tempos, Mourinho tem sido uma presença constante nas manchetes, tanto pela sua postura exigente como pelas declarações cheias de carisma. Confrontado com uma tarja gigante com o seu rosto em Leiria, o técnico respondeu com o humor e pragmatismo que o caracterizam.
“Emoção é ir a Guimarães. Fui lá com o Benfica e com o FC Porto. É um sítio lindo para jogar, com uma massa adepta contra, mas fantástica. É um daqueles estádios históricos. Emoção seria ganhar lá.”
Esta resposta mostra como Mourinho encara cada desafio: não como um espetáculo pessoal, mas como uma missão competitiva. A mentalidade vencedora continua intacta — e o foco total está sempre no próximo jogo.
Análise: Mourinho mantém a exigência como motor da equipa
Mesmo com a vitória por 3-0, o discurso do treinador revela que a mentalidade de excelência ainda não está completamente enraizada no grupo. Mourinho quer um Benfica dominador desde o primeiro minuto, sem relaxamentos ou ritmos baixos — independentemente do adversário.
A crítica pública à primeira parte é também uma mensagem clara para dentro do balneário: ninguém tem lugar garantido. Para Mourinho, a competitividade interna é a chave para manter o nível da equipa durante toda a temporada.
E há lógica no raciocínio. O Benfica, com calendário intenso e várias frentes em disputa (campeonato, Taça de Portugal, Allianz Cup e competições europeias), precisa de todos os jogadores no máximo da forma física e mental.
O impacto da vitória e o que vem a seguir
Com o apuramento garantido para a Final Four da Allianz Cup, o Benfica segue firme na busca por mais um troféu nacional. A vitória sobre o Tondela, embora sem brilho total, reforça a consistência da equipa nas competições internas.
Ainda assim, Mourinho não quer deixar margem para complacência. A sua mensagem é clara: “ganhar não basta, é preciso convencer”.
Nas próximas jornadas, o Benfica enfrentará adversários mais exigentes — e o treinador sabe que o nível exibido na primeira parte frente ao Tondela não será suficiente contra equipas do topo da Liga.
Conclusão: Mourinho não perdoa a mediocridade — e o Benfica só tem a ganhar
Ao fim de mais uma vitória, Mourinho mostrou o seu lado mais exigente, mas também o mais humano. Admitiu o próprio erro, elogiou o esforço dos adeptos e reconheceu o mérito dos seus jogadores mais experientes.
No fundo, o técnico quer construir um Benfica que jogue com alma, intensidade e mentalidade vencedora em todos os jogos — mesmo quando a vitória parece garantida.
Entre a crítica e o elogio, o discurso de Mourinho mostra que há um projeto sério em andamento na Luz. E se há algo que o “Special One” provou ao longo da carreira é que, quando as suas equipas começam a alinhar com a sua mentalidade… as vitórias deixam de ser simples resultados e passam a ser inevitáveis.

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