As contas do Dragão em azul: um novo ciclo financeiro no FC Porto
As demonstrações financeiras da SAD do FC Porto referentes ao exercício 2024/25 foram aprovadas por unanimidade esta terça-feira, durante a Assembleia Geral de acionistas no Estádio do Dragão.
O momento marcou um ponto de viragem histórico: no primeiro ano completo da presidência de André Villas-Boas, os azuis e brancos registaram o melhor resultado líquido consolidado de sempre, atingindo 39,2 milhões de euros de lucro, revertendo o prejuízo de 21,1 milhões do exercício anterior.
Mais do que números, o balanço reflete o início de uma nova era de estabilidade, transparência e rigor financeiro, conforme destacou o próprio presidente.
“Este é o primeiro passo de uma nova fase” – Villas-Boas celebra viragem
Na abertura da sessão, André Villas-Boas deixou um discurso marcado pela confiança e pelo otimismo.
“Estes resultados não são apenas números. Representam o restabelecimento da confiança, a validação da competência e a prova de que o FC Porto voltou a ter o controlo sobre o seu destino”, afirmou.
Para o líder portista, o último ano simboliza um período de “consolidação, equilíbrio e reconstrução sustentada”, capaz de devolver ao clube a credibilidade interna e externa perdida em anos de défice e controvérsias financeiras.
Com este discurso, Villas-Boas reforça a imagem de um presidente focado na gestão responsável e no planeamento a longo prazo, em contraste com a instabilidade financeira que marcou os últimos anos da administração anterior.
Assembleia Geral aprova contas e renova confiança na administração
A reunião dos acionistas decorreu num ambiente de consenso e apoio total à nova direção.
Entre os pontos aprovados estiveram:
• O Relatório Anual Integrado 2024/25;
• A proposta de aplicação dos resultados;
• As medidas previstas no Código das Sociedades Comerciais;
• Um voto de louvor aos órgãos de administração e fiscalização;
• A nomeação do Revisor Oficial de Contas;
• E a ratificação da política de remunerações proposta pela Comissão de Vencimentos.
A aprovação unânime de todas as propostas é interpretada como um sinal claro de estabilidade institucional, demonstrando que a estratégia de Villas-Boas está a ser bem recebida tanto pelos acionistas como pela massa associativa.
Resultados que abrem espaço para investimento e competitividade
O Diretor Financeiro da SAD, José Pedro Pereira da Costa, destacou o impacto direto deste resultado positivo na capacidade de investimento do clube.
Segundo o CFO, o Porto conseguiu não apenas cumprir metas financeiras, mas também reestruturar o passivo, tornando-o mais controlado e com custos financeiros menores.
“Tivemos o melhor resultado líquido de sempre, uma melhoria significativa dos capitais próprios e um passivo mais estável e de longo prazo. Tudo isto permite-nos projetar o futuro com confiança”, afirmou.
Na prática, isto significa que o clube tem margem para reforçar o plantel, sem comprometer os critérios de sustentabilidade da UEFA, fundamentais para garantir presença nas competições europeias.
Sustentabilidade e cumprimento das regras da UEFA
Um dos pontos sublinhados por Pereira da Costa foi o cumprimento integral dos requisitos financeiros da UEFA, um tema sensível em vários clubes europeus.
“Foram estes resultados que nos permitiram o forte investimento na equipa principal de futebol nesta última janela de verão e também nos têm permitido cumprir a 100% todos os critérios de sustentabilidade financeira da UEFA.”
Essa conformidade é crucial, sobretudo porque o FC Porto depende da presença regular nas competições europeias — fonte vital de receitas televisivas, prémios e visibilidade internacional.
Com as contas equilibradas, os dragões evitam sanções e reforçam a imagem de um clube financeiramente saudável e competitivo.
Entre o sucesso financeiro e o desafio desportivo
Embora o exercício financeiro tenha sido brilhante, Pereira da Costa reconheceu que o desempenho desportivo ficou aquém das expectativas.
“Financeiramente foi um exercício muito positivo; desportivamente, diria que bastante abaixo do que desejávamos. Mas o resultado financeiro dá-nos as bases para investir de forma significativa e alcançar aquilo que os associados mais querem: vitórias.”
Este ponto revela o grande desafio da nova direção: transformar o equilíbrio financeiro em sucesso dentro de campo, algo essencial para consolidar a confiança da massa adepta.
O investimento realizado no último mercado de verão demonstra que a administração está disposta a apostar forte na competitividade da equipa, dentro dos limites da responsabilidade orçamental.
Análise: uma viragem histórica e estratégica para o FC Porto
A aprovação das contas e o lucro recorde marcam o fim de um ciclo de incertezas e o início de uma gestão moderna e planeada.
Villas-Boas, frequentemente apontado como um “presidente gestor”, parece estar a cumprir a promessa de trazer profissionalismo e rigor económico ao clube.
Os 39,2 milhões de euros de lucro não são apenas um número impressionante — representam a capacidade do FC Porto de gerar receitas sustentáveis sem depender exclusivamente de vendas de jogadores, um modelo que, nos últimos anos, se revelou frágil.
A reestruturação do passivo, a melhoria dos capitais próprios e a redução dos encargos financeiros são sinais de que o clube finalmente controla as suas finanças, uma mudança de paradigma após décadas de desequilíbrios.
O impacto político e simbólico na presidência de Villas-Boas
Para Villas-Boas, este resultado não é apenas um triunfo financeiro — é também uma vitória política.
A unanimidade na Assembleia Geral simboliza a reconciliação entre os acionistas e a direção, algo que nem sempre foi possível nas gestões anteriores.
Este consenso fortalece o presidente internamente e projeta a sua liderança como estável, transparente e visionária.
Além disso, a narrativa de “reconstrução sustentada” é uma estratégia inteligente para consolidar o apoio da massa associativa, mostrando que o clube está a ser reconstruído com base em princípios sólidos e não em promessas populistas.
Perspetivas: crescimento com responsabilidade
Com um lucro histórico e um clima de estabilidade, o FC Porto entra em 2025/26 com bases firmes.
Os próximos passos, segundo Pereira da Costa, passam por manter a disciplina orçamental, potenciar ativos do plantel e continuar a investir na infraestrutura desportiva.
A médio prazo, a SAD pretende reforçar a competitividade europeia, consolidar o cumprimento dos critérios da UEFA e manter a credibilidade junto de investidores e parceiros.
Se conseguir equilibrar resultados financeiros e títulos em campo, Villas-Boas poderá transformar este ciclo numa era dourada de sustentabilidade e sucesso desportivo.
Conclusão: o Dragão volta a rugir com força e equilíbrio
O FC Porto de 2024/25 não é apenas um clube com contas positivas — é um símbolo de recuperação e gestão moderna.
Depois de anos de desequilíbrios e incertezas, o Dragão reencontra-se com a estabilidade.
E, como frisou o próprio Villas-Boas, este é apenas “o primeiro passo de uma nova fase: transparente, sustentada e vencedora.”
Se o rumo se mantiver, o FC Porto pode voltar a ser exemplo não só no relvado, mas também na gestão desportiva e financeira em Portugal.

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