Primeira batalha da segunda volta aquece as eleições do Benfica
Rui Costa e João Noronha Lopes voltaram a cruzar argumentos — desta vez, na primeira ronda de debates da segunda volta das eleições presidenciais do Sport Lisboa e Benfica. O confronto televisivo, transmitido em simultâneo por quatro canais — entre os quais a CNN Portugal —, revelou duas visões distintas sobre o futuro do clube da Luz.
Mais do que um simples debate, este foi um duelo de identidade, poder e estratégia. Os candidatos deixaram claro que o Benfica vive uma encruzilhada: manter a atual linha de continuidade com Rui Costa, ou optar por uma mudança de rumo com João Noronha Lopes.
Mourinho no centro do debate: continuidade ou novo rumo?
Um dos momentos mais intensos da noite foi a discussão sobre a continuidade de José Mourinho e do diretor desportivo Mário Branco. O tema dominou boa parte do debate e expôs as diferenças de gestão entre os dois candidatos.
Noronha Lopes começou por elogiar a aposta de Rui Costa em Mourinho, destacando que “é um grande treinador, será com quem trabalharei”. O candidato garantiu que nunca viu Mourinho como um trunfo eleitoral, mas sim como uma escolha técnica acertada.
Ainda assim, deixou claro que pretende mudar a estrutura diretiva caso vença:
“Tenho todo o respeito por Mário Branco, mas a minha escolha para Diretor-Geral é Pedro Ferreira.”
A promessa de mudança na direção desportiva abre um cenário delicado. Quando questionado sobre o que faria se Mourinho exigisse continuar com Mário Branco, Noronha foi taxativo:
“Nenhum treinador está acima do Benfica.”
Esta frase ecoou fortemente entre adeptos e analistas, sendo interpretada como uma tentativa de reafirmar a autoridade presidencial sobre as decisões do futebol.
130 milhões depois, o problema continua
Noronha Lopes também não deixou escapar uma crítica à política de contratações do clube. Demonstrou “estranheza” com a necessidade de reforços em janeiro, depois de um investimento de 130 milhões de euros no verão.
Para ele, o problema principal de Mourinho é “pegar numa equipa que não escolheu”, algo que também afetou treinadores anteriores como Bruno Lage. A sua proposta é simples: estabilidade, coesão e planeamento conjunto entre direção e treinador.
“Trazemos um projeto de estabilidade e coesão para o futebol. O Benfica tem de voltar a ganhar com consistência e critério.”
Esta análise revela a abordagem de Noronha: menos improviso, mais estrutura e maior planeamento desportivo — um modelo que procura afastar o improviso que tem caracterizado as últimas épocas encarnadas.
Rui Costa defende o trabalho feito e a visão de continuidade
Rui Costa, por sua vez, assumiu uma postura defensiva, mas confiante. Procurou reforçar a legitimidade do seu mandato e o trabalho desenvolvido desde que assumiu a presidência, destacando o regresso de Mourinho como uma das suas decisões mais corajosas e significativas.
O atual presidente lembrou que o Benfica viveu uma fase de reconstrução e que os frutos começam agora a aparecer. Sublinhou que “o clube está a ser reorganizado em todas as vertentes”, desde a formação até à estrutura financeira.
Costa não se deixou pressionar por promessas eleitorais de regressos mediáticos ou mudanças imediatas. O seu discurso foi o de estabilidade e continuidade — e de quem acredita que o clube está no caminho certo.
Bernardo Silva divide os candidatos
Outro ponto quente do debate foi o possível regresso de Bernardo Silva ao Benfica. O médio termina contrato com o Manchester City no final da temporada e é há muito apontado como um sonho de regresso à Luz.
Rui Costa optou por uma resposta emocional e simbólica:
“Se ele for benfiquista, virá pelo clube e não pelo presidente.”
Já Noronha Lopes, mais ousado, fez uma promessa clara:
“Comigo a presidente, o Bernardo Silva volta ao Benfica.”
Segundo Noronha, mantém uma relação próxima com o jogador e acredita que o seu regresso seria uma das maiores forças simbólicas de uma nova era. Essa diferença de discurso reflete bem o espírito das candidaturas: Costa prefere a prudência institucional, enquanto Noronha aposta na promessa emocional e mobilizadora.
União ou ruptura? O tom final do debate
Na reta final, João Noronha Lopes procurou mostrar-se como o candidato da união. Reforçou o seu “sonho de ser presidente do Benfica” e pediu aos sócios para manterem o espírito democrático e o respeito após as eleições:
“É uma honra enorme disputar esta segunda volta. Este é o sonho da minha vida. Serei presidente com humildade e vontade. Tenho comigo Bagão Félix e Nuno Gomes há muito tempo. Estou convicto de que vou ganhar, mas reitero o que o Rui disse: é muito importante que os benfiquistas votem. No fim, somos todos do Benfica.”
O apelo à unidade foi um dos momentos mais humanos da noite, contrastando com as trocas de críticas anteriores. Rui Costa, por sua vez, também apelou à serenidade e à participação massiva dos sócios, sublinhando que a verdadeira força do Benfica está no voto.
Debate revelou contraste entre estabilidade e rutura
O confronto mostrou que o Benfica está perante uma escolha clara: manter o rumo de Rui Costa, baseado na continuidade, ou abrir uma nova era com João Noronha Lopes, que promete reformar estruturas e dar um novo fôlego ao futebol profissional.
De um lado, Rui Costa representa o peso da história e da gestão interna, um presidente que vive o clube por dentro e acredita no tempo como aliado. Do outro, Noronha simboliza a pressão pela mudança e pela modernização, apoiado em nomes históricos como Nuno Gomes e Bagão Félix.
Ambos reconhecem os erros do passado, mas diferem na forma de os corrigir. O primeiro debate da segunda volta mostrou maturidade política e clareza de propostas — e, acima de tudo, uma vontade comum de recolocar o Benfica no topo do futebol europeu.
O que vem a seguir
O segundo e decisivo debate entre Rui Costa e João Noronha Lopes realiza-se na Benfica TV, no dia 6 de novembro.
A segunda volta das eleições decorre a 8 de novembro, e promete ser uma das mais participadas da história do clube.
Até lá, a nação benfiquista vive dias de tensão e expectativa. Seja qual for o vencedor, uma coisa é certa: o futuro do Benfica será decidido não apenas nas urnas, mas na capacidade de unir um clube que continua dividido entre o passado e o futuro.

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