Introdução: uma vitória que levanta dúvidas
O FC Porto venceu o Moreirense por 1-2, em Moreira de Cónegos, no encerramento da 9.ª jornada da Liga Portuguesa. À primeira vista, trata-se de um resultado positivo: três pontos, recuperação após desvantagem e um golo decisivo aos 90 minutos, assinado por Deniz Gül. Mas a análise mais profunda revela uma história diferente — a de um FC Porto dominador, porém ineficaz, que voltou a demonstrar carências ofensivas preocupantes para uma equipa com ambições de título.
Num encontro disputado sob vento forte e chuva intensa — um verdadeiro vendaval no norte do país —, os “dragões” voltaram a sentir dificuldades em transformar posse de bola em perigo real, precisando de insistência e alguma dose de sorte para arrancar a vitória.
O contexto: feridas abertas após o desaire europeu
Depois da derrota em Nottingham, diante do Forest, na Liga Europa, esperava-se uma resposta categórica dos comandados de Sérgio Conceição. O adversário, porém, não era dos mais acessíveis: o Moreirense ainda não tinha perdido em casa esta temporada, sustentado por uma organização tática exemplar e um bloco médio-baixo difícil de ultrapassar.
A deslocação a Moreira de Cónegos surgiu, portanto, como um teste de caráter. E, apesar da vitória, o FC Porto voltou a deixar transparecer alguns dos problemas que o têm perseguido desde o início da época — em especial, a falta de um finalizador clínico e a previsibilidade no último terço.
Primeira parte: domínio azul e branco sem recompensa
O início do jogo foi revelador: o FC Porto assumiu o controlo da posse, instalou-se no meio-campo adversário e empurrou o Moreirense para trás. Ainda assim, o volume ofensivo não se traduziu em oportunidades claras.
As tentativas de Galeno e Evanilson foram travadas pela muralha minhota e, sempre que o Moreirense recuperava a bola, procurava explorar a profundidade com saídas rápidas.
Aos 27 minutos, surgiu o primeiro golpe: golo do Moreirense, que apanhou o Porto descompensado. Um erro de posicionamento no setor defensivo abriu espaço para um contra-ataque letal, culminando num remate certeiro sem hipóteses para Diogo Costa.
O golo teve efeito psicológico imediato. O FC Porto perdeu fluidez e passou a acelerar de forma desordenada, acumulando passes errados e cruzamentos inofensivos. A equipa parecia sofrer do mesmo síndrome de ineficácia que já se tornara visível em jogos anteriores.
Segunda parte: reação, insistência e redenção tardia
A conversa ao intervalo, visivelmente intensa por parte de Sérgio Conceição, surtiu efeito. O FC Porto regressou mais agressivo e determinado.
O empate chegou aos 56 minutos, com Evanilson a aproveitar um ressalto dentro da área para empurrar a bola para o fundo das redes — um golo que trouxe algum alívio, mas não serenidade.
A partir daí, o jogo tornou-se um verdadeiro monólogo portista, com o Moreirense cada vez mais encostado às cordas. O guarda-redes Kewin Silva foi figura de destaque, negando o golo em várias ocasiões, incluindo uma defesa espetacular a remate de Pepê.
Mas quando tudo parecia encaminhar-se para um empate frustrante, surgiu o momento da noite: aos 88 minutos, Deniz Gül apareceu na área para finalizar com categoria e garantir o 2-1 final. Um golo que valeu ouro e que, por ironia, veio de um jogador que até nem é titular habitual — um detalhe que reforça a narrativa da falta de soluções ofensivas fiáveis no plantel principal.
Análise tática: o Porto domina mas não convence
Em termos estratégicos, o FC Porto foi fiel ao seu modelo habitual — pressão alta, amplitude pelos extremos e tentativa de explorar o corredor central com combinações rápidas.
No entanto, o plano de jogo esbarrou novamente na falta de criatividade no meio-campo. A ausência de um verdadeiro “número 10” continua a ser uma dor de cabeça. Nico González e Varela cumprem defensivamente, mas não oferecem o passe de ruptura necessário para quebrar blocos baixos.
Além disso, a insistência em cruzamentos laterais previsíveis tornou o jogo mais fácil de defender para o Moreirense. É verdade que o vento dificultou a precisão, mas a previsibilidade tática dos “dragões” é um problema mais estrutural do que circunstancial.
A boa notícia é que a equipa manteve a intensidade e a crença até ao fim, algo que tem sido uma das marcas de Conceição. A má notícia é que depender de rasgos individuais e bolas paradas não é sustentável a longo prazo, especialmente num campeonato cada vez mais equilibrado.
Destaques individuais: Gül e Diogo Costa salvam o Porto
• Deniz Gül – Entrou para resolver. O jovem atacante mostrou frieza e instinto dentro da área, provando que pode ser uma alternativa real no ataque.
• Diogo Costa – Apesar de pouco exigido, fez uma defesa crucial a meio da segunda parte que manteve o empate.
• Evanilson – Lutou muito, marcou um golo e foi dos poucos a manter a mobilidade ofensiva, embora tenha desperdiçado duas boas ocasiões.
• Pepê – Sempre ativo, mas irregular. Faltou-lhe melhor tomada de decisão nos momentos decisivos.
A opinião: vitória enganadora e aviso à navegação
Apesar da vitória, o FC Porto está longe de convencer. A equipa parece mais dependente do espírito combativo do que da qualidade coletiva, e a falta de soluções ofensivas continua a ser uma preocupação real.
O jogo em Moreira de Cónegos deixa um aviso claro: sem eficácia, o domínio territorial pouco vale.
Os “dragões” precisam urgentemente de um plano alternativo para quando o jogo direto e os cruzamentos falham. Falta um criador, alguém capaz de desequilibrar pelo centro e servir os avançados em melhores condições.
Enquanto isso, Conceição vai acumulando vitórias pela garra e pela insistência — mérito que não deve ser desvalorizado, mas que não pode mascarar as lacunas táticas e técnicas que o FC Porto continua a exibir.
Conclusão: três pontos com sabor agridoce
O 2-1 sobre o Moreirense mantém o FC Porto na luta pelos primeiros lugares e devolve alguma confiança após a derrota europeia. No entanto, o desempenho voltou a expor uma equipa sem poder de fogo consistente e demasiado dependente de momentos isolados.
O “vendaval” ofensivo que o título sugere foi, na verdade, um vendaval de tentativas frustradas, até que Gül apareceu para salvar a noite.
O resultado é positivo, mas o sinal é claro: o FC Porto vence, mas ainda não convence.

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