O FC Porto conquistou uma vitória suada diante do Moreirense (2-1), em partida válida pela 9.ª jornada da Liga Portugal Betclic, e o treinador Francesco Farioli não escondeu o orgulho pelo resultado. Em declarações após o jogo, o técnico italiano destacou a importância do triunfo e a evolução mental e tática da equipa, que, segundo ele, voltou a inspirar respeito entre os adversários.
A vitória em terreno hostil
O encontro em Moreira de Cónegos prometia dificuldades desde o primeiro minuto. O Moreirense tinha um registo 100% vitorioso em casa e é conhecido pela sua consistência tática e pela força no seu estádio. O FC Porto, pressionado para manter-se no topo da tabela, teve de suar para quebrar essa invencibilidade.
“Viemos a um campo onde o Moreirense tinha ganho todos os jogos em casa. Conhecíamos as dificuldades que este jogo teria”, disse Farioli, reconhecendo o mérito do adversário.
O treinador sublinhou as características do jogo — um campo curto, relvado denso e um adversário fechado num bloco baixo — fatores que, segundo ele, tornam o desafio “típico da Liga portuguesa”, onde os grandes precisam de ser pacientes para encontrar espaços.
Com posse dominante, mas nem sempre incisiva, o FC Porto soube sofrer. O Moreirense chegou a ameaçar com transições rápidas, aproveitando as costas da defesa portista, mas a equipa azul e branca respondeu com experiência. No final, a vitória foi justa, mas com sabor de batalha — e é exatamente esse tipo de resultado que, segundo Farioli, constrói equipas campeãs.
Um processo em construção: o “novo FC Porto” de Farioli
Desde a sua chegada, Francesco Farioli tem tentado implementar um modelo de jogo mais paciente, apoiado na posse e na construção desde trás — um contraste com o estilo direto e emocional da era de Sérgio Conceição. O técnico, no entanto, alerta para o tempo necessário desse processo.
“Se acreditamos que o processo de reconstrução irá terminar após 16 semanas de trabalho, estamos longe da realidade”, afirmou.
A mensagem é clara: o FC Porto ainda está em metamorfose. O treinador quer criar uma identidade moderna, mas sem perder o caráter competitivo que sempre definiu os dragões.
Farioli recorda “de onde a equipa veio” — uma fase de transição, com saídas importantes e a necessidade de rejuvenescimento do plantel. Jogadores como Eustáquio, Pepê e Nico González estão a adaptar-se a novas funções, enquanto jovens talentos ganham espaço num contexto exigente.
O técnico defende que, embora o futebol do Porto ainda tenha momentos de irregularidade, os sinais de crescimento já são visíveis. “Foi um resultado importante e seguimos em frente”, reforçou.
“O FC Porto voltou a meter medo”
Um dos pontos mais marcantes das declarações do treinador foi a convicção com que falou sobre o impacto psicológico da sua equipa nos rivais.
“Após quatro meses de trabalho, as equipas voltaram a temer o FC Porto. Começam a defender mais baixo, no seu próprio meio-campo”, afirmou Farioli, com um tom de confiança que não passou despercebido.
Essa frase é simbólica — traduz o renascimento da “aura” portista.
Durante algumas fases da temporada passada, o Porto parecia ter perdido a agressividade e a capacidade de impor respeito. Agora, com uma abordagem mais estruturada, Farioli acredita que o equilíbrio entre controle e intensidade está a reaparecer.
Na prática, isso significa que os adversários já entram em campo com uma postura defensiva reforçada, reconhecendo a capacidade ofensiva e a maturidade coletiva dos dragões. “É uma ótima mensagem para todos nós. Temos de estar orgulhosos do facto de estarmos a criar mais medo nos adversários”, sublinhou o treinador.
O desafio da consistência
Apesar do discurso positivo, Farioli sabe que o FC Porto ainda precisa de melhorar a consistência. O treinador já foi criticado por arriscar em excesso na saída de bola e por insistir num jogo de posse que, em alguns momentos, parece previsível.
No entanto, o resultado em Moreira de Cónegos prova que a equipa começa a encontrar soluções: variações táticas, alternância entre jogo curto e bolas longas, e uma defesa mais equilibrada.
Jogadores como Evanilson e Galeno têm sido fundamentais nesse processo, dando verticalidade e capacidade de decisão no último terço.
Além disso, Farioli tem dado sinais de boa gestão emocional — uma qualidade que o distingue. Longe do temperamento explosivo do seu antecessor, o italiano aposta num discurso calmo, racional e analítico. A mensagem que passa é de evolução contínua, sem pressas nem euforias.
O próximo obstáculo: SC Braga
Sem tempo a perder, o foco já está no próximo desafio. O FC Porto enfrenta o SC Braga, uma equipa em alta na Liga Europa e também sólida no campeonato. O treinador mostrou respeito pelo adversário, mas também confiança na preparação da sua equipa.
“Vamos ter seis dias para analisarmos bem o SC Braga, uma equipa em boa forma na Europa League e na Liga, para estarmos prontos para esse jogo, que será difícil.”
O duelo promete intensidade e qualidade. O Braga de Artur Jorge tem uma das melhores transições ofensivas do campeonato e será um teste ao sistema de posse controlada de Farioli.
Para o Porto, é mais uma oportunidade de consolidar o novo modelo e provar que o discurso de “equipa temida” se confirma nos resultados.
Análise e opinião: o Porto do futuro começa agora
O FC Porto vive um momento de reconstrução — técnica, emocional e estrutural.
Farioli representa uma nova era no clube: menos explosão, mais método; menos coração, mais cabeça. No entanto, manter o ADN competitivo será o grande desafio.
A vitória frente ao Moreirense não foi apenas mais três pontos. Foi um teste de maturidade e uma afirmação de identidade. Mostrou que o Porto pode vencer sem ser brilhante, e que o treinador começa a impor a sua filosofia sem perder o instinto vencedor que faz parte da história azul e branca.
Há ainda muito por ajustar — a ligação entre meio-campo e ataque, a regularidade defensiva e a consistência nas laterais —, mas o caminho parece claro: um FC Porto mais dominante, mais previsível na ideia e menos vulnerável à pressão.
Se os adversários “voltaram a temer o FC Porto”, como garante Farioli, é porque algo está de facto a mudar no Dragão. E, no futebol, o respeito é sempre o primeiro passo para o regresso ao topo.

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