O Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), liderado por Pedro Proença, condenou o Sporting Clube de Portugal ao encerramento parcial do Estádio José Alvalade por um jogo. A decisão incide sobre o setor A17, situado na Bancada Norte, e surge na sequência dos incidentes ocorridos durante o clássico frente ao FC Porto. Segundo o organismo, adeptos leoninos arremessaram vários objetos para dentro do relvado, comportamento que motivou a sanção disciplinar e financeira aplicada ao clube verde e branco.
Um castigo pesado: interdição e multa superior a 15 mil euros
De acordo com o acórdão divulgado pelo Conselho de Disciplina, o Sporting foi punido com uma interdição temporária de um setor do estádio e uma multa significativa. “Em cúmulo material, condena-se a arguida na pena única de interdição temporária do setor A17, Bancada Norte, por um (1) jogo, acrescida da sanção de multa no valor de 150 (cento e cinquenta) UC, a que corresponde o montante de €15.300,00 (quinze mil e trezentos euros)”, lê-se no documento.
A decisão baseia-se em práticas classificadas como “agressões simples com reflexo no jogo por período igual ou inferior a 10 minutos”. O Conselho de Disciplina considerou que o lançamento de objetos para o campo, embora não tenha atingido jogadores ou elementos técnicos, perturbou o normal desenrolar da partida e demonstrou reincidência disciplinar, o que agravou a penalização.
Além da interdição, o Sporting foi ainda multado em 5.100 euros por esta infração específica e, adicionalmente, sancionado com uma coima de 10.200 euros por “arremesso de objeto sem reflexo no jogo”. No total, as penalizações financeiras ultrapassam os 15 mil euros, refletindo o enquadramento severo que a FPF tem aplicado a casos de conduta inadequada dos adeptos.
O contexto dos incidentes no clássico com o FC Porto
Os incidentes remontam ao duelo entre Sporting e FC Porto, um dos jogos mais intensos da temporada. Durante o encontro, adeptos leoninos terão arremessado objetos, incluindo copos e garrafas de plástico, em direção ao relvado. Embora nenhum dos arremessos tenha atingido jogadores ou oficiais de jogo, o Conselho de Disciplina considerou que o comportamento “viola as normas de conduta e segurança previstas no regulamento disciplinar”.
O relatório descreve detalhadamente momentos que envolveram jogadores como Zaidu (FC Porto) e William Gomes (Sporting), confirmando que os objetos atirados não provocaram interrupções prolongadas nem ferimentos. “O arremesso dos objetos não logrou atingir qualquer jogador ou outros agentes desportivos, tendo os mesmos caído no terreno de jogo sem causar perturbação significativa”, lê-se no acórdão. No entanto, o documento sublinha que “a arguida não fez tudo o que estava ao seu alcance para prevenir tais comportamentos”.
A reincidência foi um fator determinante na decisão. O Sporting tem estado sob vigilância disciplinar devido a ocorrências semelhantes em temporadas anteriores, o que levou o Conselho a agravar a pena, reforçando a mensagem de intolerância face a atos de indisciplina nas bancadas.
O Sporting ilibado de acusações mais graves
Apesar da punição, o Conselho de Disciplina também decidiu ilibar o Sporting de acusações mais graves, nomeadamente as relacionadas com “agressões a espectadores e outros intervenientes”. Após análise dos relatórios oficiais e imagens do jogo, o organismo concluiu que não houve responsabilidade direta do clube nos ferimentos de 17 adeptos verificados no final do encontro.
Esses ferimentos resultaram, segundo o mesmo documento, dos festejos dos adeptos do FC Porto, que terão provocado a quebra de vidros na área reservada aos visitantes. O impacto dos estilhaços causou ferimentos ligeiros em vários adeptos do Sporting, mas o Conselho entendeu que não existiam fundamentos para responsabilizar o clube de Alvalade. “O Sporting foi absolvido de qualquer responsabilidade pelos ferimentos sofridos pelos 17 adeptos, uma vez que os danos decorreram de comportamentos alheios à sua esfera de controlo”, pode ler-se no acórdão.
Esta distinção entre responsabilidades mostra uma aplicação equilibrada das normas disciplinares, reconhecendo que o clube lisboeta foi, em parte, vítima de um contexto de tensão que marcou o clássico.
A posição do Sporting e o impacto da decisão
Até ao momento, o Sporting não emitiu comunicado oficial sobre a decisão, mas fontes próximas da estrutura do clube admitem que a direção liderada por Frederico Varandas poderá recorrer da sanção. O clube tem defendido uma política de tolerância zero em relação a comportamentos violentos nas bancadas, mas considera que as punições impostas nem sempre refletem adequadamente o esforço interno de prevenção.
A interdição do setor A17 representará uma limitação parcial da lotação de Alvalade para o jogo em causa, com impacto direto no ambiente do estádio e nas receitas de bilheteira. No entanto, o clube deverá procurar minimizar os efeitos, realocando sócios e adeptos para outras áreas do recinto, de modo a garantir a melhor gestão possível do espaço durante o período de cumprimento da sanção.
Em termos simbólicos, a decisão constitui um alerta para a necessidade de maior vigilância e de medidas preventivas reforçadas. O Sporting tem investido em campanhas de sensibilização e segurança, mas os episódios recorrentes demonstram que o comportamento de uma minoria continua a colocar o clube em risco de penalizações severas.
O papel do Conselho de Disciplina e o rigor das decisões
Sob a presidência de Pedro Proença, a Federação Portuguesa de Futebol tem mantido uma postura firme face a comportamentos de risco e violência nos estádios. O Conselho de Disciplina tem procurado aplicar sanções exemplares para dissuadir futuros incidentes e reforçar a mensagem de que a responsabilidade dos clubes vai além das quatro linhas.
Nos últimos anos, a FPF tem desenvolvido esforços no sentido de promover a integridade e a segurança no desporto, incluindo programas de formação e planos de ação com as forças policiais e os clubes. Este caso insere-se nessa linha de atuação, pretendendo reforçar a autoridade das instituições e garantir que as regras são cumpridas de forma uniforme e transparente.
Uma reflexão sobre a cultura desportiva
O episódio volta a abrir o debate sobre o comportamento dos adeptos e o ambiente nos estádios portugueses. Embora o futebol seja uma paixão nacional, os casos de arremesso de objetos e de incidentes nas bancadas continuam a manchar a imagem do desporto. A interdição parcial de Alvalade serve, assim, de lembrete de que a responsabilidade coletiva é fundamental.
As direções dos clubes, as claques organizadas e as próprias autoridades têm um papel a desempenhar na prevenção destes comportamentos. Campanhas educativas, reforço da segurança e sanções rigorosas são apenas parte da solução — o essencial passa por promover uma cultura de respeito e fair play, onde o apoio apaixonado não se confunde com atos de desordem.
Conclusão: entre a punição e a responsabilidade
O castigo aplicado ao Sporting reflete a firmeza do Conselho de Disciplina na aplicação das normas, mas também expõe a complexidade da gestão do comportamento dos adeptos. Embora o clube tenha sido ilibado das acusações mais graves, a interdição de um setor e as multas financeiras constituem um sinal claro de que a tolerância a infrações comportamentais é cada vez menor.

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