O jogo entre Benfica e Tondela, a contar para os quartos-de-final da Taça da Liga, terminou com vitória das águias e apuramento para a final four da competição. No entanto, o encontro ficou marcado por polémica, especialmente após a grande penalidade assinalada aos 41 minutos, convertida por Nicolás Otamendi. A decisão do árbitro motivou dúvidas entre adeptos e especialistas, e Pedro Henriques, antigo árbitro e atual comentador, foi perentório na sua análise: o penálti não deveria ter sido assinalado.
A jogada que mudou o rumo do jogo
Até ao momento do penálti, o Benfica encontrava sérias dificuldades em ultrapassar o bloco defensivo do Tondela. O empate a zero parecia manter-se sólido, até que um cruzamento na área levou a bola a tocar no braço de Afonso Rodrigues. O árbitro, depois de ser alertado pelo VAR, foi ao monitor e assinalou grande penalidade. Otamendi, chamado à conversão, não desperdiçou e abriu o marcador.
Contudo, as imagens da jogada não convenceram muitos adeptos e analistas. A bola pareceu bater no braço do jogador do Tondela a curta distância, levantando a questão sobre se o contacto teria sido intencional ou evitável.
A análise de Pedro Henriques
Pedro Henriques, em declarações ao jornal A Bola, considerou a decisão incorreta. “O VAR chama o árbitro para lhe mostrar inicialmente uma imagem parada onde a bola está a tocar no braço/cotovelo direito de Afonso Rodrigues. Como o braço está levantado e ligeiramente afastado do corpo, dá margem para dizer que está em posição não natural”, explicou.
O ex-árbitro, porém, destacou que o futebol não deve ser julgado apenas por imagens estáticas. “A dinâmica da jogada mostra outra realidade. Há um cabeceamento de Leandro Barreiro em cima do adversário, com a bola a um metro de distância, um cabeceamento à queima, tecnicamente designado de bola inesperada”, esclareceu.
Henriques reforçou que, pela proximidade do lance, o jogador do Tondela não teve tempo de reagir. “O jogador é surpreendido, havendo quase em simultâneo um choque entre ambos. Na minha opinião, o futebol não espera que um penálti seja assinalado nestas circunstâncias. Dou como incorreta a decisão de se ter assinalado pontapé de penálti”, concluiu.
O impacto da decisão no jogo
O golo de Otamendi mudou o rumo do encontro. O Benfica, que até então enfrentava dificuldades, ganhou confiança e acabou por ampliar o resultado com golos de Lukebakio e Pavlidis. O triunfo permitiu aos encarnados garantir presença na final four da Taça da Liga, juntando-se ao Sporting, já apurado.
Para o Tondela, a decisão foi amarga. A equipa vinha fazendo uma exibição sólida, com linhas bem compactas e uma estratégia que neutralizava os ataques do Benfica. A penalidade quebrou o equilíbrio e condicionou o resto da partida, deixando os jogadores e adeptos visivelmente frustrados.
Polémicas recentes com o VAR
Este episódio volta a colocar o VAR no centro das atenções. Embora o sistema tenha sido criado para reduzir erros, tem gerado debates sobre a sua utilização, sobretudo em lances de mão na bola. A interpretação da “posição natural” do braço continua a ser uma das zonas cinzentas das regras do futebol moderno.
Especialistas defendem que o VAR deve servir para corrigir erros claros e óbvios, e não para reinterpretar jogadas de dúvida. No caso do Benfica-Tondela, a decisão parece ter sido tomada com base numa imagem parada, sem a devida análise do contexto dinâmico da jogada — algo que, segundo Pedro Henriques, distorce a essência do jogo.
Benfica e os penáltis decisivos na temporada
A discussão em torno deste lance também surge num momento em que o Benfica tem sido frequentemente beneficiado por penáltis. Só nesta temporada, o clube da Luz já teve sete grandes penalidades assinaladas a seu favor em todas as competições — seis delas na I Liga.
Desses penáltis, cinco foram convertidos por Vangelis Pavlidis, o melhor marcador do campeonato, e um por Ivanovic. A influência desses lances na produtividade ofensiva do Benfica é significativa: 22,5% dos golos do clube nesta época resultaram de grandes penalidades.
Ainda que a estatística não indique irregularidades, a frequência de penáltis a favor das águias tem alimentado discussões entre adeptos rivais e analistas sobre a consistência dos critérios de arbitragem.
A reação dos adeptos e a pressão mediática
Nas redes sociais, as reações não tardaram. Muitos adeptos do Tondela e de outros clubes criticaram a decisão, acusando o VAR de favorecer as equipas grandes. Do lado benfiquista, alguns reconheceram que o lance foi duvidoso, embora tenham defendido que o jogo se decidiu por mérito próprio.
A pressão mediática em torno do Benfica-Tondela é reflexo da importância que os lances de arbitragem continuam a ter no futebol português. Pequenos detalhes podem alterar o desfecho de uma partida e, em competições a eliminar como a Taça da Liga, um penálti mal assinalado pode significar o fim de um sonho para equipas menos cotadas.
O papel do árbitro e o futuro do VAR
A arbitragem portuguesa vive um momento de escrutínio constante. Com a ajuda da tecnologia, esperava-se uma maior uniformidade nas decisões, mas as divergências de interpretação continuam a ser um problema. O caso do Benfica-Tondela evidencia a necessidade de formação contínua e de regras mais claras sobre o que constitui uma “mão não natural”.
Além disso, alguns ex-árbitros defendem que o VAR deveria ser usado apenas em erros flagrantes, e não em situações sujeitas a interpretação. A obsessão por analisar cada detalhe em câmara lenta pode afastar o futebol da sua natureza espontânea e injustiçar jogadas que, no ritmo real, não configuram infração.
Conclusão: um jogo decidido no detalhe
O Benfica segue firme na Taça da Liga, mas o debate sobre o penálti frente ao Tondela permanece aberto. Pedro Henriques foi claro ao classificar a decisão como incorreta, destacando que o lance não reunia as condições para ser considerado falta. A discussão volta a expor os desafios da arbitragem moderna e o papel do VAR em preservar, ou distorcer, a justiça do jogo.
Independentemente da polémica, o episódio serve de alerta: o futebol precisa de critérios mais consistentes e de uma aplicação equilibrada da tecnologia. Caso contrário, continuará a ser decidido não apenas dentro das quatro linhas, mas também nas salas de vídeo que tantas vezes fazem pender a balança de forma controversa.

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