Na noite de quinta-feira, 30 de outubro, realizou-se o confronto final entre os dois cabeças-de-lista que passam à segunda volta das eleições da presidência do Benfica: Rui Costa e João Noronha Lopes. Depois da primeira ronda, onde seis candidatos disputaram o voto dos sócios, restam agora apenas os dois finalistas — num momento álgido para o clube encarnado. O debate, transmitido em diversos canais, teve como pano de fundo um cenário de elevada participação dos sócios e expectativas elevadas para o futuro do clube.
Participação e contexto eleitoral
O ato eleitoral do Benfica bateu recordes. O número de sócios que compareceu às urnas na primeira volta foi descrito como “estrondoso” pelo próprio Rui Costa. O facto de ter sido necessário um segundo turno revela duas coisas essenciais: primeiro, que o eleitorado está dividido, e segundo, que ambos os candidatos têm potencial real para congregar apoios. Na prática, aquele que conquistar os votos de quem apoiou outros candidatos na primeira volta poderá garantir a presidência.
As eleições do clube realizam-se num momento complicado para muitos clubes europeus: pressão financeira, necessidade de resultados imediatos, exigência dos sócios. Para o Benfica, a presidência assume um papel simbólico e estratégico: não se trata apenas de gerir o dia-a-dia, mas de apontar uma visão de futuro.
As palavras de Rui Costa e os seus eixos de campanha
Durante o debate, Rui Costa fez questão de agradecer a participação dos sócios, bem como o trabalho da equipa que organizou o ato eleitoral. “Foram mais de 40 horas em que muita gente trabalhou”, referiu. Ele assumiu que, na segunda volta, ambos os candidatos “partem do zero”. Disse ainda: “A minha convicção é de que tenha sido um voto de confiança à minha pessoa e liderança.”
Nos eixos de campanha, Costa insistiu numa mensagem de continuidade: o clube está “muito melhor do que há quatro anos”. Em paralelo, alertou para o ambiente nas redes sociais, classificando como “lamentável” o tipo de ataques que decorrem dessas plataformas — algo que, na sua opinião, mina o espírito benfiquista.
Outro ponto relevante: Rui Costa deixou claro que, caso não seja eleito, não fará oposição ao clube. “Já passei por isso quatro anos e não consigo fazer aos outros aquilo que me fizeram a mim.” Esse tipo de afirmação revela mais do que estratégia: indica uma postura de maturidade ou, pelo menos, uma vontade declarada de não ferir laços com o clube.
João Noronha Lopes: expectativas e apelo à mudança
Já João Noronha Lopes mostrou-se convicto de que pode virar o resultado a seu favor. Ele percebeu que parte dos votos da primeira volta não foram para nenhum dos dois finalistas — e esses são agora o alvo privilegiado para conquistar.
O discurso de Noronha Lopes privilegia a ideia de renovação, de “colocar o Benfica em primeiro plano”. Em contraste com a mensagem de continuidade de Costa, ele lança o ambiente para mudança — ainda que sem romper completamente com o passado do clube.
Entre os temas abordados destacam-se: estabilidade no comando técnico, reforço do plantel, centralização dos direitos televisivos (e as implicações para o clube português). O candidato frisou que “o segundo lugar não existe” para o Benfica — uma frase que visa mobilizar quem considera que o clube deixou de ter ambição máxima.
Temas quentes do debate — além da forma, o conteúdo
Estabilidade do treinador
Um dos pontos de maior tensão foi a estabilidade na liderança técnica. Noronha Lopes critica que nos últimos anos tenha havido vários treinadores no Benfica — argumento usado para justificar a necessidade de uma nova química e visão. Por sua vez, Costa respondeu que estabilidade depende sempre de resultados: “Não se mantém um treinador apenas por ritual, tem de haver méritos.”
Plantel, contratações e regresso de nomes
Outro tema sensível foi o regresso do jogador Bernardo Silva. Noronha Lopes defendeu a hipótese como símbolo de um projeto mais ambicioso; Costa respondeu com realismo: “Ninguém pode garantir que um jogador regressa, estamos no século XXI, não nos anos 80.”
Direitos televisivos e centralização
No âmbito geral do futebol português, a questão da centralização dos direitos televisivos mereceu destaque. Costa fez uma defesa firme de que o Benfica só seguirá para negociações se os valores prometidos forem concretizados: “Caso isso não aconteça, o Benfica não defende que esta centralização avance.”
Ambiente de campanha e redes sociais
Ambos os candidatos abordaram, com diferentes nuances, o clima da campanha. Enquanto Costa fez referência ao que qualificou de “ofensas” e fomentação de ódio nas redes, Noronha Lopes lamentou “ataques pessoais lamentáveis”, sobretudo vindos de estruturas próximas do adversário.
Análise – quem sai em vantagem?
Num embate de alto risco, cada detalhe conta. A meu ver, Rui Costa parte com vantagem pela experiência e pela leitura de continuidade — numa fase em que muitos sócios poderão valorizar estabilidade num momento de mudanças rápidas. A sua mensagem de que o Benfica “está muito melhor do que há quatro anos” apela à confiança restabelecida.
No entanto, essa vantagem comporta riscos: se ele for visto como o candidato do “mais do mesmo”, poderá perder terreno para aquele que melhor capturar o desejo de mudança. Nesse sentido, Noronha Lopes tem argumento forte: se conseguir convencer que oferece uma nova dinâmica sem perder a alma benfiquista, poderá mexer no eleitorado.
O cenário para a segunda volta:
• Aquele que angariar os votos dos apoiantes de candidatos eliminados vai ganhar.
• A mobilização e o “get-out-the-vote” serão decisivos.
• Qualquer erro de comunicação ou episódio negativo pode custar caro, até porque o eleitorado está mais atento e crítico.
• A clareza de projeto e a credibilidade da equipa que rodeia o candidato serão fatores de ponderação.
Opinião – o que realmente importa para o Benfica?
Em minha opinião, mais do que vencer esta eleição, o próximo presidente do Benfica terá de responder a três desafios centrais:
1. Conciliar ambição desportiva com estabilidade financeira – O futebol está cada vez mais competitivo, e resultados a qualquer custo não podem comprometer o futuro.
2. Dar voz aos sócios e manter a identidade do clube – Um dos ativos mais valiosos do Benfica é a sua massa associativa. O próximo presidente terá de manter uma relação próxima com os sócios, ouvindo-os e envolvendo-os.
3. Adaptar-se ao futebol moderno – Mercado globalizado, redes sociais, pressão imediata: o clube precisa de uma liderança que combine tradição com inovação.
O debate entre Costa e Noronha Lopes não será o fim da história — será o ponto de partida para a segunda volta, mas sobretudo para o mandato que virá. Quem ganhar tem a responsabilidade de unir, projetar e liderar um clube que exige vitória, gestão eficaz e pertinência no futebol europeu. Quem perder, espero, fará o gesto de reconciliação e contribuição — porque o Benfica é maior que qualquer candidato.
Conclusão
A eleição para a presidência do Benfica assume contornos de momento definidor. O debate de 30 de outubro entre Rui Costa e João Noronha Lopes revelou não só as diferenças de visões e estilos, mas também a profundidade das expectativas. Os sócios terão agora de decidir entre continuidade e mudança — ou talvez entre as duas, se o vencedor conseguir articular ambos.
Independentemente do resultado, o que se pede é compromisso: com o clube, com os sócios e com a grandeza do Benfica. O próximo presidente terá de olhar para o futuro sem esquecer o passado, e liderar com ambição, clareza e humildade. E isso, meus caros leitores, vai muito além de votos ou slogans — trata-se de legado.

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